Pergunta-me.
As respostas estão espalhadas por aí.
No sorriso.
Embrulhadas no riso das piadas que só nós entendemos.
Hoje demos mais um passo rumo à vitória. E foram tantas as perguntas que ficaram por fazer…
Olhas para mim como quem fura a camada mais intensa da alma e o teu olhar brilhante fala calado.
"Queres perguntar-me alguma coisa?".
As respostas estão espalhadas por aí.
No tempo. No mar. Na praia.
Na esplanada que alberga o vento que nos agita os cabelos e na bebida enchendo dois copos a meio, que partilhamos para ficarmos em sintonia.
Tenho o vício agreste – quase tão agreste como o vento – de fazer perguntas, de precisar de ter certezas, de ouvir da boca de quem amo o que completa e alegra as discrepâncias de mim.
Sempre fui difícil e o que é fácil, se não tem uma explicação lógica, deixa-me enterrada na areia, prestes a ficar presa para a eternidade.
Mas a eternidade é um horizonte tão profundo, como aquele que se divide num misto de cinzento e azul, neste dia frio, somente de temperaturas altas para nós os dois.
Talvez me tenha tornado lamechas e mole, no momento em que percebi que as perguntas que te faço não precisam de ter som. Tu adivinhas, compões as malhas de convicção que me fazem ter as tais certezas tão definidas que, no fundo, não servem para definir nada, porque os teus olhos falam e isso chega-me.
“Queres perguntar-me alguma coisa?”.
Faíscas que saltam e letras que se desenham, nas pupilas dos teus olhos. E tudo o que eu preciso, está em ti.
Hoje o som não faz sentido. As palavras e os discursos perderam o norte e eu encontrei-me na bússola que se traduz nas tuas palavras caladas e nas marés calmas e carregadas de promessas, que ondulam no teu olhar…
“Queres perguntar-me alguma coisa?”.
Ainda é Inverno mas o meu coração está quente. Há momentos e pessoas que nos aquecem por dentro.
Em gestos tão simples como mãos dadas a percorrer a avenida. Ou o caminho lado a lado, na faixa de areia que delimita a entrada para um mar revolto.
É bom ir à praia no Inverno.
É bom mudar a rotina e contrariar o que, à partida, está delineado em cada estação. É bom sentirmo-nos vivos.
E eu sinto!
Sinto tudo, quando olhas para mim e dizes em silêncio, apenas com um olhar.
"Queres perguntar-me alguma coisa?".
[Imagem retirada da Internet]
Este texto integra o meu livro: