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RUMO À AVENTURA

Tu querias a aventura, porque já nada do que tinhas te chegava. Eu queria a realidade do mundo, porque era somente nele que conseguia viver. Mas tu insistias que a aventura era o teu ideal. Querias descobrir lugares novos. Desejavas explorar o desconhecido e negavas, a cada instante, pisar o chão que toda a gente pisa. Ansiavas elevar-te, mas eu confessei-te que a única coisa que ansiava era ter-te perto. Não ligaste. Voltaste a dizer-me que querias partir rumo à aventura, pois era ela que te enchia a alma. Entristeci. Sempre pensei que quem te enchia a alma era eu, como tu enchias a minha. Mas fingi não ligar, como tu também não ligaste à minha vontade da realidade. Um dia, quando abri a porta, tu não estavas. Tinhas feito as malas e ido viajar pelo mundo inteiro. O meu peito apertou-se e uma dor aguda alojou-se em mim. Não consegui evitar esboçar um sorriso. Algo simples. Débil e fraco. Mas um sorriso. Uma linha curva ascendente, em redor dos meus lábios. Orgulhei-me de ti. Querias s

DEPOIS DA ESPERANÇA, SÓ TU: ABRIL!

Onde estás? Quero falar contigo e pedir-te que voltes. Ou, se não puderes voltar, que apenas faças chegar a nós as marcas do que um dia foste. Hoje a esperança escasseia. Olhei à minha volta de manhã, quando saí à rua e vi a miséria e a decadência a espreitar de cada esquina. Num beco cruel da amargura, uma fila de gente, já vazia e mais perdida a cada dia que passa. Onde estás? Não percebes que precisamos de ti, como esse povo que já se substituiu, mas que te continua a querer e a respeitar a cada dia, da mesma forma que eles um dia o fizeram? Onde estão todas as promessas de um futuro promissor? Onde estão essas vozes que marcaram a diferença, juntamente contigo e que batalharam para chegar, até onde já chegámos? Onde estás, que foste embora e nunca mais voltaste? Há quem diga que ainda cá andas. Que ainda permaneces em cada bocado sombrio, que hoje compõe cada cidade do país. Há quem diga que é tudo uma questão de tempo (e talvez, também, de desespero) até voltar a haver outro como

RUGAS

Hoje percebi que não tenho medo de envelhecer. Não quer dizer que não vão existir dias – ou noites (porque as noites são sempre as melhores, as mais sinceras e as mais justas confidentes) – em que vá colocar, novamente, tudo em questão.  Quando vi as primeiras rugas a aparecer em redor dos meus olhos, chorei, desesperei, quis desistir. Era (e sou!) demasiado nova para as ver chegar assim, precocemente, sem poder fazer nada… Mas, depois de muito analisar, percebi que é o nosso caminho, que são os passos que damos, as pedras que somos capazes de contornar e, até mesmo, aquelas em que tropeçamos, o que nos marca a alma e a pele.  Não são as rugas! Cada ruga deve ser motivo de orgulho. Se surgiu pela languidez da desilusão, se veio da maneira como ela se instala sem avisar, como vorazmente se apodera da nossa alma para a abanar e como depois nos vai consumindo nessa fórmula lânguida e melancólica, exactamente a pouco e pouco, pouco importa! Importa ainda menos se veio da dor, da dor física

CHECKLIST

A checklist estava pousada em cima da secretária. No papel, um conjunto simétrico de linhas com as tarefas agendadas para a semana. As palavras, escritas numa caligrafia irrepreensível, faziam doer os olhos pelo teor de perfeição que as assolava. Ao lado do copo das canetas de várias cores. Entre o alinhamento – também simétrico – de marcadores igualmente variantes de uma paleta de artista. Rasando o bloco limpo e imaculado de folhas pautadas, saltava à vista como um passaporte dourado para um destino paradisíaco. A checklist era o cúmulo da organização. Os dias corriam iguais. O mundo que ela conhecia, parou, modificou-se, simplesmente mudou! E isso implicava que tinha de se agarrar a tudo o que restava. Só Deus sabia o quanto esse tudo carregava o peso impossível de um eufemismo. A checklist era a sua bóia de salvação! Porque a sua cabeça estava baralhada. Porque o seu cérebro era a testemunha viva da confusão emaranhada em horas, contratempos, silêncios e intempéries. Aquela lista d

TANGO

Tango. Sempre ouvi dizer que são precisos dois para dançar o tango . E quem melhor do que nós, para formar uma dupla tão perfeita? O que ele não sabe, sei eu. O que eu não sei, ele sabe! Não podiam existir duas peças tão diferentes, que se encaixassem tão bem. Às vezes eu choro ou hesito. Enfureço-me com facilidade ou sou sensível demais. E ele, mete-me os pontos nos is e as cartas na mesa, mostrando-me as possibilidades e fazendo malabarismos com elas, até encontrarmos a solução. Quando eu quero fugir perante a tormenta, ele faz-me entender que um pedaço de cinzento também é preciso, para sabermos que a vida não é só composta por tons de vermelho, da cor do sangue e da paixão. Há o amor. Há a dor. Há a responsabilidade do dia-a-dia e a hora propícia para desfrutar do Sol. Há ele e eu. E há o tango! A mistura perfeita e bonita que formamos, de mãos entrelaçadas, mesmo que os quilómetros se intrometam entre nós. Como um tango perfeito, ensaiamos vida fora, cientes que metade de mim e me

VAI HAVER ALGUÉM QUE VAI MARCAR PARA SEMPRE A TUA VIDA

Vai haver alguém que vai marcar para sempre a tua vida. No fundo, todas as pessoas que estão - ou estiveram nela - o fazem. Cada rosto que se cruza contigo e entra no teu mundo, tem algo para te dar. Uns, trazem-te amor, sorrisos, esperança e são normalmente os que ficam mais tempo ou que, usando a expressão de que tu tanto gostas, ficam “para sempre”. Mas também vai haver quem te faça chorar, quem te faça acreditar que o teu destino é sofrer, quem te dê dor e desilusão. A esses, chamam-se “as mais duras experiências de vida”. E tu sabes, porque já tiveste um número considerável na tua. As marcas são algo que fica. Como uma profunda cicatriz, que um dia foi uma ferida e ardeu. Até o amor arde! Até ser amor faz doer. Mas essas, são as feridas e as dores mais fáceis de suportar. São aqueles sacrifícios que todos nós estamos dispostos a fazer e a viver, pelo menos uma vez na vida. As marcas da vida são pessoas. E são como os frutos da árvore. Há os verdes, os maduros e os podres. E de mão

AMANHÃ

E foi esse o nosso erro. Foi o erro de achar que havia tempo. Uma certeza que transbordava de convicção. Uma certeza que nos gritava que havia um futuro. Que havia um amanhã para acalmarmos os desejos e dar voz aos sentimentos. Foi esse o nosso erro. O erro de acharmos que seria tão simples. Que por ser tão certo, chegaria. Esse momento. Esse momento longínquo mas tão coberto de razão e sentido em que finalmente nos poderíamos amar sem medida. Em que finalmente nos poderíamos amar à vontade. Hoje era escasso. Era vago. Era vazio de lógica. Hoje tinhas pressa. Eu também. Hoje tinhas os amigos à espera no café, para a cerveja diária. Hoje eu tinha aquela amiga do peito a ligar-me, para irmos às compras e pormos em dia as fofocas. Hoje havia muito para eu viver sem ti. Hoje havia muito para tu viveres sem mim. Mas amávamo-nos. Amávamo-nos e nem um, nem outro, punha isso em causa. É como se fosse inato. Tinhas a consciência de que eu te amava como se não houvesse amanhã. E eu tinha algo em