terça-feira, 10 de maio de 2022

Tudo ou nada





Não há nada, mas, no entanto, há tudo!

Há o aroma a café, de manhã, quando acordas. Deixa-me dizer-te que, agarrado a ele, vem o sabor do carinho, do amor e das emoções boas. É um gesto de amor fazer café para alguém.
Há o sol a entrar, quando abres a janela. Ou o barulho da chuva, num dia cinzento. Com eles, seja um ou seja outro, vem agrafada a certeza de que respiramos, de que estamos vivos. Agradecer por mais um dia devia ser, simplesmente, um hábito rotineiro.
Há a decisão complexa de escolher o que se vai vestir. E, quando se abre o guarda-roupa e se vê a diversidade, aparece a certeza de que, pelo menos nós, ainda temos por onde escolher. Há alguém, num canto qualquer, de um sítio qualquer, num mundo qualquer, mas menos risonho que o nosso, que não tem nada para vestir.

Não há nada, mas, no entanto, há tudo!

Há os sonhos que eu sonhei durante a noite e que, quando a manhã chega (enquanto bebo o café que me preparaste), tenho a benesse de conseguir passar para o papel. Não há nada melhor, nem mais gratificante, do que o poder de conseguir passar o que se sente para a eternidade. Construir memórias, edificar lembranças e provar o gosto tão doce e inexplicável do que é a escrita.
Há os transportes que temos de apanhar para o trabalho que nos espera. É cansativo, sim! Mas mais vale ter um trabalho, ganhar o próprio sustento, do que contar os tostões ao fim do mês (ainda que o façamos, por vezes). Ter a consciência tranquila e, mais uma vez agradecer, pela oportunidade que, nos dias que correm, nos caiu do céu.
Há o telefone a tocar. Saber que alguém que nos é querido ainda está e se lembra de nós. Há lá coisa melhor do que demonstrar o que se sente! Uma mensagem de alguém especial faz com que o dia seja mais fácil de suportar.
Há a magia das noites. Chegar a casa e ter alguém à nossa espera. Uma pessoa, um copo de vinho, um livro, a nossa série preferida ou o nosso animal de estimação. Solidão ou casa cheia, cada um é livre de escolher o que quiser. E seríamos todos tão mais felizes se aprendêssemos a respeitar quem é diferente…

Não há nada, mas, no entanto, há tudo!

Então, porque é que continuamos a descarregar as nossas frustrações, em tudo e em todos?
Então, porque é que nos culpamos incoerentemente, por coisas que não nos cabe a nós controlar?
Então, porque é que achamos que ainda é pouco? Porque é que não há empatia e porque é que matamos por causa disso?

Não há nada, mas, no mundo – naquele onde vivemos –, há tudo!

E é melhor aproveitar, antes que o tudo se torne nada e nada restar do tudo que somos.






[Imagem retirada da Internet]



Este texto integra o meu livro:


Para encomendar um exemplar, envie um email para pimenta.nicp@gmail.com

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