sexta-feira, 7 de outubro de 2022

"E pudesse eu pagar de outra forma"





Ouvi dizer que o nosso amor acaba amanhã. Ouvi dizer… Mas, também, ouço dizer tanta coisa nos dias que correm…
Ouvi dizer que as flores murchariam e a natureza morreria, porque o ser humano poluiu o meio ambiente, ofuscando a Mãe, de fumo, pedras e pó.
Como o nosso amor… Como o nosso amor se ofuscou pela banalidade que foi tomando conta das nossas vidas (a de cada um), tornando o que era comum nos extremos opostos que caracterizam as paixões do século XXI, que não duram nem vinte e quatro horas.
Mas vinte e quatro sobre vinte e quatro (tantas somas, que lhes perdi a conta) foram as horas. Foi o tempo em que uma noite (que se repetiu inúmeras vezes mas que eu prefiro lembrar singular, para tentar fazer com que não doa tanto o pensamento e o peito), debaixo de um céu brilhante, adornado por uma lua redonda, prometemos ver sempre mais além, do que a névoa de poluição que abarca a cidade e tolda as mentes dos pares da nossa geração.
Mentimos? Não sei.
Não sei, mas receio bem que sim…
De que servem as promessas, se agarramos as oportunidades para as quebrar?
Há quem diga que é para provar o gosto da liberdade. Mas, também, ouço dizer tanta coisa nos dias que correm…
Além disso, como fazê-lo? Como fazê-lo num mundo em que já começaram a retirar tudo, incluindo o ar para respirar?
Ouvi dizer que o nosso amor acaba amanhã. Mas não tive a noção.
Os meus ouvidos são surdos quando o som que lhes chega, não chega para me satisfazer.
Satisfaz-se, assim, a raiva. Raiva, por não ter tido a noção…
E como diz aquela música, E pudesse eu pagar de outra forma…
Mas não posso. E tal como ela, também o teu nome está escrito por toda a cidade.
Nos vidros embaciados dos carros.
No nevoeiro cerrado da avenida.
Nas tabuletas que indicam as possibilidades de escolha de um caminho.
E nas paredes do meu quarto.
A escuridão do meu mundo privado, que deixou de ser nosso e fez de mim carne, amor-mágoa e poesia…
Ouvi dizer que o nosso amor acaba amanhã. Não posso pagar de outra forma, por mais que queira.
Porque o amor, mesmo que acabe, deixa a sua doença sem cura. Elevada ao expoente da loucura, mais ou menos como retrata aquela música, que tocava em forma de banda sonora de um amor que tinha tudo para dar certo mas, tal como a humanidade e o que fizeram dela, deu errado.
As construções sustentam a cidade, mas o nosso amor é um arranha-céus em derrocada. Ouvi dizer que ele acaba amanhã.
Ouvi dizer… Mas ouço dizer tanta coisa, que já não sei no que acreditar.
E se houver outra forma de eu pagar por este fim, que me digam, já que dizem tanto, sem me explicar nada.






[Imagem retirada da Internet]



Este texto integra o meu livro:


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