sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Tango





Tango. Sempre ouvi dizer que são precisos dois para dançar o tango. E quem melhor do que nós, para formar uma dupla tão perfeita?
O que ele não sabe, sei eu. O que eu não sei, ele sabe! Não podiam existir duas peças tão diferentes, que se encaixassem tão bem.
Às vezes eu choro ou hesito. Enfureço-me com facilidade ou sou sensível demais. E ele, mete-me os pontos nos is e as cartas na mesa, mostrando-me as possibilidades e fazendo malabarismos com elas, até encontrarmos a solução.
Quando eu quero fugir perante a tormenta, ele faz-me entender que um pedaço de cinzento também é preciso, para sabermos que a vida não é só composta por tons de vermelho, da cor do sangue e da paixão.
Há o amor. Há a dor.
Há a responsabilidade do dia-a-dia e a hora propícia para desfrutar do Sol.
Há ele e eu.
E há o tango!
A mistura perfeita e bonita que formamos, de mãos entrelaçadas, mesmo que os quilómetros se intrometam entre nós.
Como um tango perfeito, ensaiamos vida fora, cientes que metade de mim e metade dele, formam o todo da dança que será apresentada no final.
E é quando os passos surgem espontâneos, quando o compasso é marcado a dois tempos e a música posta a tocar, que todos se imobilizam para nos ver.
A cidade cala-se. O mar para de discutir com o vento. A Lua ilumina-nos, com um único foco, como quem diz que somos especiais.
Tango. São precisos dois para dançar o tango. E quem melhor do que nós?
Caminhamos em sintonia perfeita, como um par de dançarinos deve caminhar ao longo da sua dança.
Eu despejo emoção em tudo o que faço. Ele põe razão em tudo o que decide. E juntos, fechamos o compasso no limite do tempo.
Tango. E que dupla melhor do que a nossa?
Eu, a explosão. Ele, a concentração em pessoa.
A pressa misturada com a calma.
O impulso em simultâneo com o pensamento.
E um novo conceito, que faz todo o sentido!
Tango. São precisos dois para o dançar.
Eu sou o coração mole. Ele é a razão bem medida. E todos os passos que desenhamos no chão, quase sem o tocar, formam o tango, criado a dois tempos, como nós recriamos, os dois, essa obra-prima tão particular.
Tango. E a vida será uma dança!






[Imagem retirada da Internet]



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sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Vai haver alguém que vai marcar para sempre a tua vida





Vai haver alguém que vai marcar para sempre a tua vida.
No fundo, todas as pessoas que estão - ou estiveram nela - o fazem.
Cada rosto que se cruza contigo e entra no teu mundo, tem algo para te dar.
Uns, trazem-te amor, sorrisos, esperança e são normalmente os que ficam mais tempo ou que, usando a expressão de que tu tanto gostas, ficam “para sempre”.
Mas também vai haver quem te faça chorar, quem te faça acreditar que o teu destino é sofrer, quem te dê dor e desilusão.
A esses, chamam-se “as mais duras experiências de vida”.
E tu sabes, porque já tiveste um número considerável na tua.
As marcas são algo que fica.
Como uma profunda cicatriz, que um dia foi uma ferida e ardeu.
Até o amor arde!
Até ser amor faz doer.
Mas essas, são as feridas e as dores mais fáceis de suportar.
São aqueles sacrifícios que todos nós estamos dispostos a fazer e a viver, pelo menos uma vez na vida.
As marcas da vida são pessoas.
E são como os frutos da árvore.
Há os verdes, os maduros e os podres.
E de mãos dadas com elas, anda o karma.
Tens de acreditar nele!
E tens de enfrentar as marcas da vida, como se fossem tatuagens.
Porque na verdade são.
Não te saem da pele e têm um significado.
E são elas, também, o que te ensina a ser mais forte, a ser mais inteligente, a seres mais tu!
Vai haver alguém que vai marcar para sempre a tua vida.
Como os capítulos dos livros.
Como as páginas viradas.
Cada uma delas dar-te-á uma história para contar.
Assina no fim o teu nome e essa será também a tua marca.



[Imagem retirada da Internet]



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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Amanhã





E foi esse o nosso erro. Foi o erro de achar que havia tempo. Uma certeza que transbordava de convicção. Uma certeza que nos gritava que havia um futuro. Que havia um amanhã para acalmarmos os desejos e dar voz aos sentimentos.
Foi esse o nosso erro. O erro de acharmos que seria tão simples. Que por ser tão certo, chegaria. Esse momento. Esse momento longínquo mas tão coberto de razão e sentido em que finalmente nos poderíamos amar sem medida. Em que finalmente nos poderíamos amar à vontade.
Hoje era escasso. Era vago. Era vazio de lógica. Hoje tinhas pressa. Eu também. Hoje tinhas os amigos à espera no café, para a cerveja diária. Hoje eu tinha aquela amiga do peito a ligar-me, para irmos às compras e pormos em dia as fofocas. Hoje havia muito para eu viver sem ti. Hoje havia muito para tu viveres sem mim.
Mas amávamo-nos. Amávamo-nos e nem um, nem outro, punha isso em causa. É como se fosse inato. Tinhas a consciência de que eu te amava como se não houvesse amanhã. E eu tinha algo em mim que me tranquilizava, na minha própria consciência tão atrapalhada, que amares-me era o teu lema de vida.
Mas havia um amanhã. Sabíamo-lo tão bem, como nos sabíamos de cor um ao outro. Perdidos pelas ruas da rotina, fomos vivendo a amar-nos, mais à distância do que com os corpos unidos.
Um dia foi passando. A seguir outro. E ficava sempre para amanhã a reunião do nosso amor. Porque sabíamos que havia tempo. Que esse tempo era depois, mas que estava lá. Que chegaria, no momento certo.
Mas como saber qual o momento certo? Como saber qual o momento propício e oportuno para amarmos quem amamos? Aí. Aí é que foi o nosso erro. Marcar no calendário invisível de nós, o dia certo para nos amarmos. Embora fosse indefinido, contradizia-se numa definição que acalmava o coração. Pelo menos no hoje que a cada manhã entrava pela nossa janela.
Errámos. Não vale a pena partir a culpa ao meio e depositar uma metade em cada um. Errámos. Nós. Os dois. Um só. A culpa por inteiro. Errámos por nos convencermos de uma certeza que não é certa. Que nunca foi. Que nunca será.
E hoje, o hoje de hoje mesmo e não o hoje do passado, dilata-se no meu olhar triste e vazio. Esse olhar que vê agora em forma de presente, esse futuro em que era suposto o abraçar dos corpos, o abraçar das almas e enfim, a maneira mais pura de nos amarmos.
Foi esse o nosso erro. O erro de deixar para amar depois, o que devia ter sido amado já.






[Imagem retirada da Internet]



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