E foi esse o nosso erro. Foi o erro de achar que havia tempo. Uma certeza que transbordava de convicção. Uma certeza que nos gritava que havia um futuro. Que havia um amanhã para acalmarmos os desejos e dar voz aos sentimentos.
Foi esse o nosso erro. O erro de acharmos que seria tão simples. Que por ser tão certo, chegaria. Esse momento. Esse momento longínquo mas tão coberto de razão e sentido em que finalmente nos poderíamos amar sem medida. Em que finalmente nos poderíamos amar à vontade.
Hoje era escasso. Era vago. Era vazio de lógica. Hoje tinhas pressa. Eu também. Hoje tinhas os amigos à espera no café, para a cerveja diária. Hoje eu tinha aquela amiga do peito a ligar-me, para irmos às compras e pormos em dia as fofocas. Hoje havia muito para eu viver sem ti. Hoje havia muito para tu viveres sem mim.
Mas amávamo-nos. Amávamo-nos e nem um, nem outro, punha isso em causa. É como se fosse inato. Tinhas a consciência de que eu te amava como se não houvesse amanhã. E eu tinha algo em mim que me tranquilizava, na minha própria consciência tão atrapalhada, que amares-me era o teu lema de vida.
Mas havia um amanhã. Sabíamo-lo tão bem, como nos sabíamos de cor um ao outro. Perdidos pelas ruas da rotina, fomos vivendo a amar-nos, mais à distância do que com os corpos unidos.
Um dia foi passando. A seguir outro. E ficava sempre para amanhã a reunião do nosso amor. Porque sabíamos que havia tempo. Que esse tempo era depois, mas que estava lá. Que chegaria, no momento certo.
Mas como saber qual o momento certo? Como saber qual o momento propício e oportuno para amarmos quem amamos? Aí. Aí é que foi o nosso erro. Marcar no calendário invisível de nós, o dia certo para nos amarmos. Embora fosse indefinido, contradizia-se numa definição que acalmava o coração. Pelo menos no hoje que a cada manhã entrava pela nossa janela.
Errámos. Não vale a pena partir a culpa ao meio e depositar uma metade em cada um. Errámos. Nós. Os dois. Um só. A culpa por inteiro. Errámos por nos convencermos de uma certeza que não é certa. Que nunca foi. Que nunca será.
E hoje, o hoje de hoje mesmo e não o hoje do passado, dilata-se no meu olhar triste e vazio. Esse olhar que vê agora em forma de presente, esse futuro em que era suposto o abraçar dos corpos, o abraçar das almas e enfim, a maneira mais pura de nos amarmos.
Foi esse o nosso erro. O erro de deixar para amar depois, o que devia ter sido amado já.
[Imagem retirada da Internet]
Este texto integra o meu livro:
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