segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Joaninha voa, voa...


 
Há uns dias, de manhã, quando acordei e me preparei para subir o estore da janela do quarto, deparei-me com uma joaninha entre a parede e o vidro. Caminhava cima abaixo, sem saber para onde ir, naquele mar sem fim que era a brancura da parede e a possibilidade de resvalar para aquele translúcido multicor, que era a extensão do vidro onde a claridade de mais um dia se refletia.
Corri a pegar no Simão ao colo, para que ele observasse o bichinho. Tinha a certeza que era a primeira vez que via aquele espécime, nos seus dez meses de idade.
Esta é uma das muitas dádivas de se ser pai ou mãe. Acompanhar um ser humano que está a descobrir o mundo, a ver e apreender, pela primeira vez, aquilo que para nós é banal e que, exatamente por isso, nos passa ao lado. A maneira como ele olhou para a joaninha, como observou com curiosidade e genuíno interesse o trajeto que ela teimava em fazer, trouxe-me a esperança renovada.
Cada dia na companhia do meu filho é assim. Mais um balde de água que enche o poço. A reserva que eu preciso para continuar, andar, viver, sem ser em piloto automático, sem ser "só porque sim".
No meu primeiro livro, o Diamante do Sul, escrevi que viver é fácil, nós é que complicamos. E cada vez estou mais convencida disso!
Desde esse dia, tenho-me obrigado a pensar positivo. A educar o pensamento, sempre que a mente quer rebelar-se e seguir a rota contrária, aquela que tantos anos, que dias a fio, tomou como certa.
Tenho, a pouco e pouco, trabalhado para chegar onde quero, para atingir os meus objetivos, mesmo que eles não sejam compreendidos por mais ninguém, além de mim. E, no fim de cada noite, quando deito a cabeça sobre a almofada e faço o balanço do dia, sinto orgulho em vez de angústia. Sinto paz (somente, paz!) por ter atingido mais um degrau nesta senda do amor-próprio.
Hoje, sem prever, enquanto imprimia uns documentos no meu escritório, olhei por reflexo para o chão e vi outra joaninha (a mesma, quem sabe?!). Sorri para o vazio. Sempre fui dada a superstições, sinais, significados por trás da banalidade de uma mera coincidência. Acredito que nada acontece por acaso e, mais uma vez, a vida trouxe-me essa confirmação.
À semelhança do que tinha feito no outro dia, peguei nela com cuidado, abri o vidro e atirei-a lá para fora, para o quintal.
Liberdade, era tudo o que ela precisava. E eu também...




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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O poder da falha


 

Às vezes, falho. Porque eu não sou perfeita. Pois não?!
Isso daria imenso trabalho, teria de ser, inclusiva e efetivamente, trabalhado ao pormenor e demoraria uma vida (e outra, e mais outra, e outra ainda, se não tivéssemos apenas uma).
A perfeição não existe. É esta a frase corrida, que ouço correr, nos dias que correm (e nos que correram, porque da maneira como corre o tempo e a vida – esta única que temos – misturo passado e presente, sabendo de sobremaneira que o futuro também será uma inequívoca correria).
Mas, afinal, o que é a perfeição? Sabemos que ela não existe, mas quantas vezes largamos da boca a exclamação “Está perfeito!”, “É perfeito!” Quando um bebé nasce, “É perfeito!” Quando bebemos um vinho de excelente categoria, “É perfeito!” Quando acabamos de confecionar aquele prato complicado e provamos a primeira garfada, “Está perfeito!” Afinal, a perfeição existe ou não?
Aqui há uns anos, afirmava a pés juntos – e cheguei a escrevê-lo num outro texto – que a perfeição existe, sim, e leva tempo! Mas falar de tempo não vale a pena, porque perderíamos imenso, não chegando a nenhuma conclusão. Pelo menos, a uma conclusão que fosse válida para toda a gente, porque precisamente para toda a gente o significado de perfeição (e de tantas outras coisas, importantes e menos importantes) varia. Porque somos um todo, mas um todo diversificado e não poderá ser isso, também, apelidado de perfeito?
Às vezes, falho. Para não dizer que falho muito. A todo o instante. E que isso é normal. Que, talvez, seja mesmo perfeitamente normal.
A vida é uma coisa complexa. Ou então somos nós que complicamos aquilo que é simples. Que, por ser de facto tão simples, não conseguimos compreender ou aceitar de ânimo leve.
Afinal, a perfeição existe. E esta é uma afirmação! Não leva o “mas”, porque já não há indecisão. Pelo menos, enquanto escrevo estas palavras. Quando as for ler, quando for reler o texto inteiro, provavelmente questionar-me-ei um par de vezes, ou mais, se a perfeição existe, ou não.
A única certeza que continuo a ter é que falho. Talvez mais do que apenas “às vezes”. E é tão perfeito falhar... Porque só falhando é que conseguimos ter uma vida perfeita. Só falhando, é que se consegue ser perfeito. Talvez perfeito e imperfeito sejam sinónimos em vez de contrários. O zé-povinho não diz que os opostos se atraem?
Perfeitamente falhando, a cada dia que passa, posso respirar de alívio. Afinal, a perfeição existe. E, contrariamente ao que afirmei um dia, não leva tempo. Leva uma vida inteira. Uma vida inteira de falhanços, de recomeços, de quedas e vezes sem conta a levantar.
Hoje, respiro de alívio. É perfeito! Eu falho. E é por falhar que sou perfeita!






[Imagem retirada da Internet]




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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Para onde o vento me levar



Quanto mais o tempo passa, mais eu me deixo guiar. Simplesmente ir, deslizar, voar, ao sabor do vento...
A decisão de escolher um caminho em detrimento de outro, passa por mim, obviamente. Alimenta-se das minhas vontades, nutre-se das lições que aprendi ao longo dos dias difíceis, dos desgostos que colecionei como uma caderneta de cromos e das verdades agridoces que me reforçaram, dando força, também, assim, ao conceito de Ser Mulher. Mas, por entre o sol que se escapa das nuvens nos dias cinzentos, pelos espaços que as gotas da chuva deixam entrever, está o vento que sopra e me guia, fazendo de mim sua amiga, sua cativa, sua refém.
Eu deixo que o vento me leve, que me tape os olhos às vontades alheias, às opiniões de escárnio, às línguas de maldizer e às frases cujas palavras ferem, em vez de apoiar. Porque de tudo isso, está o meu passado cheio. A transbordar, de tal forma, que eu não preciso de mais. Não há necessidade de receber a gota de água que faria transbordar a minha alma – uma alma que já chorou mais lágrimas do que aquelas que a minha paciência arranja paciência para contar.
Por isso, a partir de agora, e quanto mais o tempo passa, mais eu me deixo guiar. Simplesmente ir, deslizar, voar, ao sabor do vento...
Porque, por entre todas as conjugações existentes do verbo “Viver”, a mais importante é a do presente do indicativo. E o vento é o meu guia, faz-me viver o momento, empenhar-me em desfrutar dele e colecionar recordações bonitas e preciosas, em que cada detalhe que eu me disponho a apreciar é um tesouro a colar no álbum do meu ser. É nos pequenos detalhes que se encontram os maiores eventos da Vida. Desta palavra tão certeira, completa e única, pela qual, jamais, deveríamos passar com a sensação de estarmos incompletos.
E eu, para atingir a plenitude, para sentir o todo de quem sou, só preciso disto! De me deixar ir, de me saber guiada pelas mãos desse ancião tão pleno e poderoso.
Eu vou para onde o vento me levar. E, assim, sei que estou no caminho certo para a felicidade. Aquela que eu projetei para a minha Vida… *






[Imagem retirada da Internet]




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*A partir de fevereiro de 2025, a autora segue a escrita do novo acordo ortográfico (Acordo Ortográfico de 1990).